Novo tipo de coronavírus é descoberto em morcegos na China

fevereiro 25, 2025 - 14:27
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Novo tipo de coronavírus é descoberto em morcegos na China

Um novo tipo de coronavírus, identificado em morcegos, foi recentemente descoberto por cientistas chineses e apresenta risco de transmissão para seres humanos, de acordo com estudos publicados na revista Cell e no artigo da Nature. O vírus, denominado HKU5-CoV-2, compartilha com o Sars-CoV-2, causador da Covid-19, a capacidade de usar o mesmo receptor de entrada para invadir as células humanas, o que levanta preocupações sobre um possível contágio.

O estudo revelou que o HKU5-CoV-2 consegue infectar células humanas cultivadas em laboratório, incluindo células do intestino e das vias aéreas, embora com uma eficácia menor do que o Sars-CoV-2. O vírus utiliza a proteína ACE-2, que está presente nas células de várias espécies, como aves, mamíferos e humanos, para acessar as células. Essa característica é compartilhada com o coronavírus responsável pela pandemia de Covid-19, aumentando as especulações sobre seu potencial para infectar seres humanos.

Esper Kallás, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, destaca que o estudo é significativo por revelar mais um coronavírus com potencial de adaptação ao corpo humano. No entanto, ele observa que o novo vírus não utiliza o receptor celular DPP4, comum a outros coronavírus, mas sim o ACE-2, o mesmo usado pelo Sars-CoV-2. Segundo Kallás, a semelhança com outros coronavírus, como o NL63, que causa resfriado comum, é um alerta para a necessidade de mais estudos, uma vez que "há incontáveis agentes que podem causar pandemias."

Embora o HKU5-CoV-2 tenha sido identificado como um vírus presente em morcegos, a transmissão para humanos ainda não foi confirmada. Virologistas consultados pela Folha de S.Paulo descartam, no momento, a possibilidade de uma pandemia associada a esse novo coronavírus, já que não há registros de infecções humanas até agora.

Maurício Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de Rio Preto, ressalta que, apesar da preocupação com o vírus, a ausência de casos humanos o torna uma ameaça menor em comparação com outros vírus que já causaram infecções em seres humanos, como o vírus da gripe aviária.

O infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), também enfatiza que o risco de uma pandemia dependeria da capacidade do HKU5-CoV-2 de se adaptar aos receptores celulares humanos e tornar-se mais patogênico.

A linhagem anterior do HKU5-CoV-2 foi sequenciada pela primeira vez em 2014, por Jing Chen, do Instituto de Virologia de Wuhan, e sua equipe, a partir de material genético de morcegos do gênero Pipistrellus. O estudo sobre este novo coronavírus é um alerta para a vigilância contínua de vírus que circulam em populações animais, já que, em casos raros, eles podem ser transmitidos aos seres humanos, como aconteceu com o Sars-CoV-2.