Após câncer raro, mulher tem o ânus e a vulva amputados

dez 16, 2025 - 03:52
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Após câncer raro, mulher tem o ânus e a vulva amputados
Imagem ilustrativa

A inglesa Gina Thornton, de 57 anos, passou quase uma década convivendo com intensas dores e coceiras na região íntima, que ela descrevia como uma sensação constante de "queimação". Apesar de buscar ajuda médica e passar por diversos tratamentos, a verdadeira causa de seus sintomas só foi descoberta tardiamente: um câncer vulvar que já havia se espalhado por toda a região pélvica.

Diagnósticos errados e anos de sofrimento

Gina começou a sentir os primeiros sintomas aos 46 anos, em 2016, quando suas menstruações se tornaram irregulares e ela passou a perceber inchaço constante na vulva. Inicialmente, foi diagnosticada com endometriose, uma doença ginecológica inflamatória, e tratada para candidíase, uma infecção vaginal comum. Meses depois, um novo diagnóstico foi dado: líquen escleroso, uma condição de pele inflamatória que causa manchas brancas e coceira na área genital.

Apesar desses diagnósticos, os sintomas não cessaram. Ao longo dos anos, Gina seguiu realizando tratamentos, mas em 2024, a dor se intensificou de maneira insuportável. A coceira e a sensação de queimação se tornaram contínuas, a ponto de impedir que ela conseguisse dormir. “Minha vulva estava muito inchada, e eu sentia a pele sempre inflamada. A dor só piorava, a ponto de eu mal conseguir andar e passar noites em claro", lembra.

O diagnóstico tardio: câncer vulvar

Após o agravamento dos sintomas, Gina foi encaminhada para a colocação de um DIU hormonal, uma tentativa de reduzir os sintomas. No entanto, a medida apenas intensificou as crises e a sensação de queimação. Foi apenas quando o DIU foi removido precocemente que exames de imagem revelaram o verdadeiro diagnóstico: câncer vulvar em estágio inicial.

"Meu coração afundou quando me disseram que era câncer", contou Gina. "Apesar de ser detectado precocemente, eu sabia que minha vida estava prestes a mudar para sempre." A confirmação do câncer veio após o surgimento de um pequeno rasgo na região inferior da vulva, que evoluiu rapidamente para um cisto doloroso e, depois, se rompeu. A biópsia confirmou o câncer vulvar em estágio 1B, causado por uma infecção por HPV. Esse estágio significa que o tumor já ultrapassava 2 cm.

O câncer vulvar e a cirurgia radical

O câncer vulvar é raro, afetando cerca de 2 mulheres a cada 100 mil. Segundo dados do Globocan (IARC/OMS), em 2022, 47 mil mulheres no mundo foram diagnosticadas com câncer vulvar, e 18 mil morreram devido à doença.

Diante da gravidade da situação, Gina foi submetida a uma cirurgia radical chamada anovulvectomia, em novembro de 2024. O procedimento envolveu a remoção da vulva, períneo e ânus para evitar que o tumor se espalhasse. "Fiquei devastada", afirmou Gina. "Eu tinha pavor de nunca mais ter uma aparência normal, mas minha ginecologista me disse que, se eu não fizesse isso, eu morreria."

Pós-operatório e recuperação

A cirurgia foi bem-sucedida, e não houve necessidade de quimioterapia nem radioterapia. Gina passou a usar uma bolsa de estomia para coletar resíduos, uma vez que teve a terminação do sistema digestivo removida. Embora o processo de adaptação tenha sido desafiador, ela não sente mais dores nem coceiras.

Apesar da remoção da maior parte das estruturas íntimas, Gina ainda preservou seus lábios vaginais e clitóris, que permanecem funcionais, embora escondidos. Quatro meses após a cirurgia, ela e seu marido retomaram a vida sexual. "Honestamente, a sensação é ainda melhor. Colin me apoiou e me garantiu que nada jamais mudaria. Foi bom sentir esse amor", conclui.

Prevenção e conscientização

O caso de Gina destaca a importância de um diagnóstico precoce e da conscientização sobre o câncer vulvar, uma doença ginecológica rara, mas que pode ser tratada com mais sucesso se detectada em estágios iniciais. Especialistas alertam para a necessidade de mais atenção aos sintomas, especialmente entre mulheres com histórico de infecção por HPV, a principal causa do câncer vulvar.