Fome é "Coisa da Cabeça"? entenda os mitos e realidades

Novembro 22, 2024 - 17:32
 0
Fome é "Coisa da Cabeça"? entenda os mitos e realidades

A frase “fome é coisa da cabeça” já foi usada em diferentes contextos, seja para descrever sensações momentâneas de apetite ou para minimizar a gravidade da fome como um problema social. No entanto, será que essa expressão faz sentido? A fome é apenas uma construção psicológica, ou existe uma base biológica e social que a explica?

A Fome Fisiológica: Uma Necessidade Básica do Corpo

A fome é uma necessidade fisiológica controlada pelo cérebro, mais especificamente pelo hipotálamo. Quando o organismo detecta níveis baixos de glicose no sangue ou ausência de nutrientes essenciais, sinais são enviados ao cérebro, desencadeando a sensação de fome.

Esse mecanismo natural é essencial para a sobrevivência, pois incentiva a busca por alimentos para fornecer energia e manter as funções exigidas do corpo. Além disso, hormônios como a grelina (que aumenta o apetite) e a leptina (que sinaliza saciedade) regulam essa sensação, criando um equilíbrio no consumo de alimentos.

Fome Emocional: Quando o Cérebro Confunde os Sinais

Por outro lado, existe o que se chama de fome emocional , que não está diretamente ligado à necessidade de nutrientes, mas sim a estados psicológicos. Situações como ansiedade, estresse, tristeza ou até mesmo tédio podem levar ao consumo excessivo de alimentos, mesmo quando o corpo não precisa deles.

Essa fome emocional é muitas vezes confundida com a fome real, gerando a falsa ideia de que a fome é “coisa da cabeça”. No entanto, diferenciar essas duas condições é importante para entender que o corpo tem necessidades reais, enquanto fatores emocionais alteram a percepção delas.

A Fome Social: Um Problema Estrutural Real

Em um contexto mais amplo, dizer que a fome é “coisa da cabeça” pode minimizar o problema da fome estrutural. No Brasil, dados recentes apontam que cerca de 33 milhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar grave , ou seja, não têm acesso suficiente e constante aos alimentos.

A fome social não tem relação com escolhas individuais ou psicológicas, mas sim com desigualdades econômicas e falta de acesso a recursos básicos. Ela é um problema sistêmico, resultado de condições como desemprego, baixas taxas de juro, altos custos de vida e falta de políticas públicas eficazes.

Por que esse mito ainda persiste?

A ideia de que "fome é coisa da cabeça" pode vir de dois fatores principais:

  1. Falta de compreensão científica : Muitas pessoas confundem a fome fisiológica com a fome emocional, acreditando que tudo está relacionado à mente.
  2. Desconexão social : Aqueles que nunca passaram por fome real tendem a subestimar a gravidade do problema, criando discursos que deslegitimam a experiência de quem vive em condições de extrema pobreza.