Paciente fica 17 meses curado do HIV com tratamento experimental

Setembro 16, 2025 - 03:12
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Paciente fica 17 meses curado do HIV com tratamento experimental
Reprodução /TJSP

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgaram um avanço significativo no tratamento do HIV. Um paciente participante de um estudo experimental conseguiu manter o vírus indetectável por 78 semanas — cerca de um ano e meio — sem o uso contínuo do coquetel antirretroviral convencional.

O caso, que ficou conhecido como o do “Paciente de São Paulo”, representou uma forma de “cura funcional” entre 2020 e 2021, segundo infectologistas que acompanharam a pesquisa. No entanto, em 2021, o homem voltou a apresentar o vírus após uma reinfecção associada à sífilis e, atualmente, segue em tratamento regular.

Como funciona o tratamento

O estudo, iniciado em 2015, envolveu 30 homens brancos latinos, com idade média de 38 anos. Após 48 semanas de uso de um protocolo experimental, os participantes interromperam a medicação para avaliar a remissão viral. A maioria voltou a apresentar o vírus em poucas semanas.

O paciente identificado como P13, porém, manteve o HIV indetectável por 78 semanas, o que chamou a atenção dos pesquisadores. O protocolo usado pela Unifesp combina o coquetel tradicional a três medicamentos adicionais que eliminam células infectadas e “acordam” o vírus latente, permitindo que ele seja neutralizado.

Segundo o médico Ricardo Sobhie Diaz, coordenador da pesquisa:

“A maior barreira para curarmos esses pacientes é quando o vírus fica ‘dormindo’. Descobrimos que a nicotinamida acorda o vírus, vimos isso em laboratório e inserimos no estudo clínico.”

Durante o acompanhamento, os efeitos colaterais foram mínimos e não houve comprometimento da imunidade dos voluntários.

Debate científico

Apesar do avanço, a comunidade científica não reconheceu o caso como uma cura definitiva. Para a infectologista Keilla Freitas, ainda existem lacunas:

“A carga viral do Paciente de São Paulo voltou a aparecer. Foi uma reinfecção ou algum vírus do reservatório que sobreviveu ao tratamento? Isso não ficou claro. Além disso, outros pacientes do mesmo grupo sequer tiveram a mesma resposta inicial.”

Atualmente, a ciência reconhece sete casos de cura do HIV no mundo, todos relacionados a transplantes de células-tronco ou medula óssea em pacientes que também tratavam algum tipo de câncer. O primeiro foi o de Timothy Ray Brown, o ‘paciente de Berlim’, em 2008, e o mais recente foi anunciado na Alemanha, em 2024.

Embora promissores, esses procedimentos não são aplicáveis à maioria das pessoas vivendo com HIV, já que envolvem alto risco e restrições médicas específicas.

Esperança para novas terapias

Mesmo com o retorno do vírus no Paciente de São Paulo, o estudo da Unifesp é visto como um marco importante. Os resultados apontam caminhos para novas abordagens terapêuticas capazes de reduzir a necessidade do tratamento diário e, futuramente, ampliar as possibilidades de cura funcional do HIV.