Fóssil raro de tartaruga-gigante do Mioceno é encontrado no Acre

julho 28, 2025 - 18:17
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Fóssil raro de tartaruga-gigante do Mioceno é encontrado no Acre

Um fóssil raro e surpreendentemente bem preservado de uma tartaruga-gigante que viveu entre 10,8 e 8,5 milhões de anos atrás, durante o Mioceno, foi encontrado na região de Boca dos Patos, em Assis Brasil, no Acre.

A descoberta foi feita por um grupo de pesquisa liderado pelos professores e paleontólogos Carlos D’Apolito Júnior, da Universidade Federal do Acre (Ufac), e Annie Schmaltz Hsiou, da Universidade de São Paulo (USP), coordenadores do projeto “Novas fronteiras no registro fossilífero da Amazônia Sul-ocidental", financiado pelo edital Expedições Científicas, da Iniciativa Amazônia+10 — programa do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fapesp e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre (Fapac).

“Nós encontramos uma carapaça da maior tartaruga de água doce que já existiu, a Stupendemys geographicus”, conta Hsiou, que estuda a região há quase 20 anos. A carapaça encontrada estava incompleta, a partir da cintura, e tinha grandes dimensões, cerca de 1,70 metro de largura.

“A gente estima que esse casco, especificamente, chegaria a quase 3 metros de comprimento. A carapaça está entre as mais bem preservadas já encontradas dessa espécie — um registro espetacular dessa supertartaruga que viveu durante o Mioceno na Amazônia brasileira.”

A diversidade de fósseis da região sul-ocidental amazônica é conhecida há mais de um século e meio e inclui sítios fossilíferos bem consolidados ao longo de barrancos e margens dos principais rios da região, sobretudo no estado do Acre.

“A questão é que em geral encontramos fósseis muito fragmentados”, explica D’Apolito Jr. “É comum acharmos pedaços de carapaça, restos de ossos nunca ou raramente juntos e principalmente de animais menores, que são mais fáceis de se manter articulados.

Encontrar animais grandes assim, bem preservados, foi uma surpresa. Agora será possível comparar com registros de outros lugares, como, por exemplo, da Venezuela, que tem um material mais completo dessa espécie. Vamos poder decifrar, finalmente, se é a mesma espécie ou se existia uma diferente.”

O pesquisador compara a descoberta à de outros grandes répteis encontrados na região, como os jacarés da Amazônia. “Não é exatamente igual, claro, mas em 1986 foi descoberto um crânio inteiro do Purussaurus brasiliensis, que é um jacaré gigante, o maior que já existiu.

E a partir desse fóssil alguns estudos foram feitos em relação à descrição dele, da estimativa do tamanho, da mordida. Considero um ótimo comparativo, justamente por serem répteis que viveram na mesma região, na mesma época — um período ambiental bem diferente, mais quente, com muito mais água disponível, onde você encontrava lagos e rios gigantescos.”

A época geológica do Mioceno (de 23 milhões a 5 milhões de anos atrás) é conhecida pela rica fauna aquática e terrestre, além de ser o berço de diversas linhagens amazônicas. “Portanto, quanto mais nos aprofundarmos nesse intervalo geológico, mais vamos entender como se formou a biodiversidade na Amazônia e como as mudanças climáticas causaram extinções e transformações na região”, explica Hsiou.